Nosso coração é uma casa onde ninguém entra e sai,
com ou sem nossa permissão,
sem deixar marcas nas paredes.
Muitos deixam marcas profundas de felicidade;
outros deixam cicatrizes que marcarão
nossa vida para sempre.
Os amigos deixam marcas fortes, mas suaves.
E cada vez que tocamos nossa alma
com nossas recordações
lá estão os traços, invisíveis, mas legíveis,
como as escrituras em Braile.
É suficiente fechar os olhos para ver toda
uma história gravada nas paredes do nosso ser.
Nesses momentos nosso rosto sorri sozinho.
Os amores perdidos deixam marcas irrecuperáveis:
eles deixam um gosto doce e amargo ao mesmo tempo.
Amargo na maioria das vezes.
Sim, eles têm mais gosto que qualquer outra coisa e
sempre sobem a nossa garganta quando
as lembranças nos assaltam.
Tristes são as marcas das dores que
deixaram os que nos fizeram mal.
São as cicatrizes que deformam nossas vidas
se não aprendemos a conviver com elas.
Mesmo se queremos ir adiante,
de vez em quando nosso olhar se volta para esses
rabiscos mal traçados e sentimos a dor tal e
qual no primeiro dia.
Quantas vezes não impedimos que alguém entre
por causa de preconceitos ou
idéias pré-concebidas,
ou medo de tentar de novo uma nova relação.
Ao primeiro olhar, nos trancamos.
Outras vezes, sem muita consciência,
deixamos entrar quem não valia muito a pena.
Somos maus juízes
porque confiamos demais nos nossos olhos e
de menos no nosso coração.
Devemos pedir a Deus que
nos dê um pouco mais de discernimento,
pois agindo por nós mesmos,
podemos estar nos trancando a
maravilhosos encontros.
De vez em quando,
é preciso fazer uma boa faxina nessa
casinha tão preciosa.
É preciso polir carinhosamente,
realçar as marcas bonitas e
passar tinta nova e clara nas paredes;
de vez em quando é bom
abrir as janelas e deixar que o sol entre e
ilumine todos os cômodos.
E enfeitar com as janelas
com flores de cores vivas e alegres.
De vez em quando
é mesmo muito importante achar
o cantinho mais gostoso dessa casa e
sentar-se nele.
E rir do nada.
E jogar os ressentimentos para bem longe.
Sentir-se bem consigo.
Se nosso coração é uma casa,
faça do seu a casa dos seus sonhos.
Lembre-se que não importa quantos entram e saem,
você é o dono, só você é responsável.
Faça mudanças necessárias.
Jogue o inútil no lixo.
Só não se esqueça, nessa mudança,
de colocar de volta nas paredes essas marcas benditas
que deixaram esses que foram bênçãos na sua vida.
Dê a mão aos doces momentos,
os momentos felizes.
Tudo o mais é inútil,
tudo o mais deve ficar pra trás.
Não é uma moeda de troca,
com a qual possais adquirir o que desejais.
Não é desta forma que o deveis usar,
pois tudo que assim conseguirdes será fruto
de um engano e pouco durará.
Também não é uma porta encantada,
que vos leve à felicidade.
Abandonai de vez esta ilusão;
na estrada em que caminhais com o Amor,
sorrisos e lágrimas se alternarão em vossa alma.
Acostumai-vos à certeza de que o Amor não vem para
resolver os vossos problemas;
muito ao contrário,
poderá causar-vos alguns outros.
A sua essência não é a paz, mas a inquietude.
Porque ele vos leva a querer sempre mais.
E vos faz sobressaltar-vos,
à menor mudança do ser amado;
vos leva a preocupar-vos com ele e desejar o seu bem,
acima do vosso próprio bem.
Porque o Amor é o mais forte dos vossos sentimentos.
E os sentimentos não são estáticos,
mas dinâmicos; não são constantes,
mas variáveis; não são controlados,
antes vos controlam.
E, entretanto,
são eles que vos fazem sentir realmente vivos;
que despertam as vossas emoções.
São eles que vos tornam alegres ou tristes,
que vos trazem a sensação de plenitude ou vazio.
O Amor não é um lago de águas serenas,
onde navegareis com ventos suaves.
Mais se assemelha a um oceano,
com ondas calmas ou bravias,
onde pode soçobrar o vosso barco.
Isto faz parte do seu encanto.
Porque o que vos atrai no Amor não é
a segurança da certeza,
antes a inquietude da aventura;
o carinho da ternura, que se alterna com
o fogo da paixão.
Guardai-vos de tentar entender o Amor;
vivei-o, apenas.
Porque o Amor, como a Magia,
não se explica; opera milagres, cria fantasias,
transforma a realidade e vos faz enxergar
um novo mundo.
Se, realmente,
desejais conhecer o amor,
não o deveis esmiuçar; tudo que precisais,
é deixar que ocupe o vosso coração.
Mas, para isto,
deveis perder os vossos medos e o vosso egoísmo.
Pois o Amor tem os seus próprios medos e
o seu próprio egoísmo;
e precisa dominar-vos,
antes que o possais sentir em sua plenitude.
Porque não possuís o Amor; é ele que vos possui.
Não comandais o Amor; ele vos comanda.
É ele que vos toma pela mão e, com suas asas,
vos transporta nos voos mais encantadores e
perigosos que podeis experimentar em vossas vidas.
É ele que vos faz sorrir os vossos mais doces sorrisos
e chorar as vossas lágrimas mais amargas.
É ele que vos desperta os mais lindos sonhos e
vos faz sofrer as piores decepções.