Porque dia virá em que elas serão o vosso maior patrimônio.
E então descobrireis, admirados, quantos momentos,
que tão comuns vos pareceram,
foram em verdade muito especiais.
Pois a felicidade não veste uma roupa de guizos,
nem faz parar o tempo ao vosso redor,
nem transforma em ouro os raios de sol.
Ela apenas existe e vos preenche,
tornando o mundo melhor.
Se a neve cai sobre as vossas casas,
da lenha que ajuntastes vem o calor que vos aquece.
Quando a neve dos anos cobrir os vossos corpos,
as vossas lembranças aquecerão as vossas vidas.
Não desperdiceis,
portanto, a chance de guardar um sorriso,
um olhar, uma carícia ou um aceno de amor.
Não abandoneis os vossos sonhos,
sem que dele vos reste ao menos uma doce lembrança.
Aprendei a perdoar,
para que não transformeis uma amizade ou
um amor em uma lembrança amarga,
sepultando, na frustração e no rancor,
os momentos felizes que vos tenham feito desfrutar.
Recordai os momentos de paixão e
esquecei os de indiferença;
guardai o carinho e a ternura e deixai para trás
as brigas e acusações;
lembrai a cumplicidade e
olvidai as mentiras e os enganos.
Trazei convosco a imagem das mãos entrelaçadas e
dos lábios unidos;
das almas e dos corpos repartindo a
sensação maravilhosa do orgasmo e
a plenitude da saciedade que o segue.
Guardai, em vossas memórias,
as músicas que embalam os vossos sonhos;
as palavras de amor que acariciam os vossos ouvidos e
os vossos corações;
os aromas que inebriam os vossos sentidos.
Porque descobrireis que os fantasmas vos seguem,
através do tempo; e sempre vos encontrarão,
onde quer que estejais.
Podeis abandonar os lugares e os momentos,
mas os levareis em vós.
Não vos deveis iludir:
chegará o tempo em que necessitareis encarar
as vossas lembranças.
Pois a verdade é que,
enquanto o jovem espera ansioso pelo amanhã,
o idoso se refugia no ontem.
Cuidai para que apenas as recordações aprazíveis
estejam convosco.
Pois mais vale sentir a brisa que vos acaricie,
que enfrentar as borrascas que vos possam perseguir,
vindas do passado.
Certo é que em vossos caminhos encontrareis
pedras e flores.
E, se vos cabe levar ao ombro a
mochila das lembranças,
igualmente vos pertence o direito de escolher
o que nela guardareis.
Assim eu vos tenho dito.
E lembro-me de também haver dito que
o homem sensato não escolhe carregar o
peso e a aspereza das pedras;
prefere levar o perfume e a leveza das flores.
Virá um tempo em que revisitareis,
muitas vezes,
as páginas do livro onde escrevestes a
história dos vossos verões e
das vossas primaveras.
Cuidai para que delas escapem lembranças felizes.
Capazes de alegrar o vosso outono e
o vosso inverno.
Para que ali sempre os possais encontrar.
Porque,
assim como a água não brota de sobre a pedra,
e a flor não se abre senão ao calor do sol,
ninguém fica onde não se sente valorizado.
Tende em vista que o homem sempre espera
receber aquilo que oferece.
E, até mesmo na natureza,
a planta só prospera e viceja quando recebe,
do solo, os nutrientes de que precisa.
Sede gentis,
pois, se esperais que sejam gentis convosco.
Dispensai a vossa atenção às pessoas que se acercam,
e delas recebereis atenção
; ignorai-as, porém, e sereis ignorados.
Enquanto caminhais sobre a terra,
viveis entre interesses e expectativas de retribuição.
Este é um mundo de espelhos,
onde as pessoas refletem em vossa direção o
que recebem de vós.
É assim que é, e isto eu vos tenho dito.
Aquele que se julga o centro do universo,
precisa estar pronto para a solidão
em que se encontrará,
quando ninguém mais gravitar à sua volta.
Pois, ainda que cada um de vós precise ser,
para si mesmo, a pessoa mais importante,
é certo que mais facilmente chegareis
ao fim da jornada,
se vos for dado contar com o apoio de alguém.
Lembrai-vos, sempre, de que,
embora cada um de vós seja um mundo à parte,
com as suas próprias paisagens,
não sois mundos isolados; orbitais,
todo o tempo,
uns à volta dos outros.
Cuidai, pois, para não invadir o espaço alheio;
ou entrareis em rota de colisão.
Mas evitai, também, distanciar-vos demais;
ou tanto podereis afastar-vos,
que a ninguém mais encontrareis.
Atentai àqueles que estão ao vosso lado.
Pois são eles que vos apoiam e ajudam a caminhar;
ninguém consegue cumprir sozinho toda a sua jornada,
sem encontrar um braço amigo.
Sede, pois, gratos por tudo aquilo que vos oferecem.
Pela compreensão e tolerância,
pelo incentivo aos vossos projetos,
pelos conselhos que vos ajudam e
pelo abraço que vos conforta.
E não vos negueis a dedicar-lhes o
vosso apreço e mostrar-lhes o quanto
vos são queridos.
Para que eles, por sua vez,
vos tenham em alta conta e
possam demonstrar-vos o seu afeto.
Habituai-vos a espalhar gentileza,
ao vosso redor;
como a flor espalha em volta o seu perfume.
Assim, gentileza recebereis em retorno;
e, como a flor,
sereis vós próprios beneficiados.
Acostumai-vos, pois,
a ouvir com a mesma atenção com que
quereis ser ouvidos;
a responder como desejais que vos
respondam e a respeitar como esperais que
vos respeitem.
Costumamos dizer que o tempo muda todas as coisas.
Entretanto, não é bem assim.
Somos nós mesmos que mudamos;
o tempo é, apenas,
testemunha do que muda em nós.
À medida que ele passa,
as coisas e as mudanças acontecem.
Alguns dos nossos sonhos se vão;
outros chegam,
para que possamos seguir em frente.
Sorrisos e lágrimas se perdem na bruma do tempo;
e, às vezes, nem mais nos lembramos deles.
Coisas que nos fizeram chorar parecem engraçadas,
depois que o tempo passa; outras,
que nos fizeram rir,
de repente perdem toda a graça.
Elas são as mesmas, mas nós mudamos.
Porque a verdade é que o tempo
não é o culpado das nossas tristezas,
nem o responsável por nossas alegrias.
Ele não é mais do que o oceano do Universo,
no qual estamos mergulhados.
E, nele, somos como peixes;
fazemos o nosso rumo e definimos
o final da nossa jornada.
Ainda que uma ou outra onda possa
desviar-nos da rota,
somos nós que decidimos nosso destino.
Não é o tempo que muda as coisas;
somos nós.
Da decisão de hoje,
depende o resultado de amanhã;
nada podemos fazer,
senão no presente,
mas é o presente que nos leva ao futuro.
Ainda que o tempo, por vezes,
pareça um lago plácido e imutável,
ele passa muito rápido;
embora a infância e a adolescência nos
pareçam longínquas,
foram as manhãs da nossa vida.
Depois que passa o meio-dia,
a tarde caminha com passos ligeiros;
antes que percebamos,
já as sombras da noite começam a
tingir o horizonte.
E, de repente, nossos olhos se fecham.
Não nos enganemos, pois, com o tempo.
Não acreditemos que amanhã nos
será possível fazer o que quisermos,
ou conquistar o que desejamos.
Em verdade, nem sempre há tempo.
Desperdiçamos o nosso tempo.
Como o viajante que, no deserto,
fura o próprio cantil e se diverte
a observar as gotas que pingam sobre a areia,
esquecido de que um dia virá a sede implacável.
O tempo é o rosário,
onde desfiamos as contas de nossas dores e alegrias,
durante as nossas passagens sobre a Terra.
E perde todo o sentido,
para quem caminha pela Eternidade.
Pois, embora uma gota possa representar a
diferença entre a vida e a morte,
para a semente plantada na terra ressequida,
nada significa para a chuva torrencial
que cai sobre o mundo.
Cuidemos, portanto,
de lembrar que cada segundo é valioso e
nos oferece uma nova oportunidade.
E aproveitemos o tempo que nos é concedido,
em cada jornada que nos cabe realizar.
Porque a Eternidade pertence ao nosso verdadeiro Eu.
Por que juramos amor a alguém e
insistimos em mudar o seu jeito de ser?
Por que queremos que o ser amado
veja a vida como vemos,
pense como pensamos, seja como somos?
Por que não nos contentamos,
simplesmente, em amar?
Por que nos irritam as diferenças?
Por que julgamos saber o que é melhor para alguém,
quando a cada pessoa cabe sua escolha?
Desejamos a liberdade.
Mas, para que possamos ser livres,
precisamos respeitar a liberdade alheia.
Porque os grilhões que forjamos para outros,
também prendem nossos pés.
Tolerância:
esta é a única chave para a convivência.
Porque duas pessoas não conseguirão seguir juntas,
por mais que se jurem amor,
se entre elas não existir um verdadeiro respeito mútuo.
Para amar, é preciso respeitar;
ninguém consegue amar a quem não respeita,
embora seja possível respeitar a quem não se ama.
O respeito não exige amor; contudo,
o amor exige respeito.
Pois amar não é caminhar adiante ou
atrás de alguém.
É seguir ao lado de quem se ama,
mas andando por seu próprio caminho;
porque, em verdade,
cada um estará só, ao fim de sua jornada.
E eu vos tenho dito que podemos caminhar juntos,
mas cada um tem a sua própria estrada.
Precisa ter suas experiências,
viver suas tristezas e suas alegrias,
para encontrar a si mesmo.
Pode-se conviver sem amor,
mas não sem respeito.
Pois ninguém consegue sufocar,
por todo o tempo,
as suas próprias vontades;
nem viver à sombra de outro,
ignorando o seu verdadeiro Eu.
Ainda que a represa consiga,
por muito tempo, conter a força do rio,
basta um pequenino furo,
para que as águas se libertem;
então, a enxurrada levará tudo que encontrar
em seu caminho.
E assim acontece,
quando alguém ignora a si mesmo,
para atender às vontades de outra pessoa.
Chegará o dia em que se revoltará,
ante a própria submissão,
e não mais a aceitará.
O que nos cabe não é ditar algum rumo,
mas apoiar aqueles que amamos,
para que escolham os seus próprios rumos.
Quem realmente ama, não impõe;
só oferece o braço e o conselho.
Amar não é dominar;
nem submeter-se à vontade de alguém.
Ninguém pode amar outra pessoa se,
antes, não amar a si mesmo;
nem estar bem com alguém,
se não estiver bem consigo.
Amar é admirar, é respeitar.
É ser feliz,
por estar na vida de alguém especial,
que nos faz ver o mundo de uma forma diferente.
Não é domínio, é convívio;
não é complemento, é encaixe.