Conta-se de um homem, que amava o seu jardim.
Por isto dele se ocupava,
com todo o cuidado que só o amor pode inspirar.
Com carinho, absorvia-se no trato da terra.
E esta lhe retribuía com flores silvestres que,
embora humildes, embelezavam a sua vida e
perfumavam o ar que respirava.
Assim, era feliz o jardineiro.
Porque a felicidade não está em conquistar sempre mais,
e sim em reconhecer o valor do que se possui.
Porém,
todos lhe repetiam que não deveria cultivar aquelas flores;
que ninguém pode ser feliz com flores singelas,
que apenas embelezam e perfumam,
mas não têm qualquer valor que traga segurança ao cotidiano.
De tanto ouvir as vozes do mundo,
houve um dia em que o jardineiro lançou os olhos
sobre o jardim do vizinho.
As flores que ali vicejavam,
embora não tivessem a beleza e o perfume do seu jardim,
eram procuradas por todos;
e por isto lhe pareceram mais desejáveis que
as suas próprias flores.
Deste dia em diante,
foi-se a felicidade do pobre jardineiro.
Que já não se satisfazia com o seu jardim;
mas tampouco se animava a dele arrancar as flores,
que lhe ofereciam a beleza e o perfume que
em nenhum outro jardim encontrara.
Foi-se o sono tranqüilo,
que tão belos sonhos lhe trazia;
os seus olhos, que dantes guardavam
doces imagens do jardim querido sob o sol,
agora fitavam insones as trevas da noite.
Dividido entre os sentimentos contrastantes,
já não era com o mesmo encanto que apreciava a
beleza das suas flores,
ou inspirava o seu perfume.
Aos poucos,
deixou de dedicar o mesmo carinho à terra e
o mesmo cuidado ao jardim.
Assim, foram as flores perdendo o viço e,
com ele, a beleza e o perfume.
Dia após dia,
tornava-se mais feio o antes lindo jardim,
e mais sofria o pobre jardineiro.
Como acontece a tantos,
que um dia foram felizes,
mas deixaram-se seduzir pelo brilho que
julgavam descobrir nos jardins alheios.
E esqueceram de cuidar das próprias flores...
__HASSAN__
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