Há no coração de cada um de nós,
por essência, uma música que é somente nossa,
inigualável, intransferível.
Por várias razões, conhecidas ou não,
às vezes aprendemos desde muito cedo a diminuir,
gradativamente, o seu volume e
a inventar ruídos que nada tem a ver
com ela para nos relacionarmos
com nós mesmos e com os outros.
Até que chega um tempo em que desaprendemos
a entrar no nosso próprio coração para ouvi-la e,
porque não passeamos mais nele,
porque não a ouvimos mais,
não é raro esquecermos completamente que ela existe.
Mas, como toda ignorância, toda indiferença,
toda confusão,
não são capazes de apagar a beleza original
dessa partitura impressa na alma,
ela continua tocando,
ainda que de forma imperceptível.
Continua tocando,
à espera do dia em que,
de novo ou pela primeira vez,
possamos aumentar o seu volume,
trazê-la à tona, compartilhá-la.
Continua tocando,
e alguns são capazes de ouvi-la
mesmo quando não conseguimos.
Todo encontro genuíno de amor é
também o encontro de duas pessoas que conseguem
ouvir a música uma da outra
e sentir alegria e descanso com aquilo que ouvem.
Conseguem ouvir,
não importa quantos ruídos tenham inventado pelo caminho,
tantas vezes para se proteger da dor afastando a vida.
__Ana Jácomo__
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